Só pedir desculpas não resolve!

Por Poli Lopes*

Minha quinta-feira foi marcada por algumas conversas sobre o momento em que Mark Zuckerberg, CEO da Meta, pede desculpas aos pais de crianças vítimas de abuso infantil no Instagram. A cena aconteceu ontem, durante a audiência do Comitê Judiciário do Senado dos EUA sobre segurança infantil.

Apesar de, pessoalmente, achar esse pedido bem mequetrefe, precisamos entender a simbologia do fato. A reputação das plataformas de mídias sociais e conversacionais é péssima no quesito ‘segurança do usuário’. Uma busca rápida por “denúncias violência redes sociais” nos leva a notícias e sites com orientações sobre violência contra a mulher, crimes nas redes sociais e discurso de ódio na internet… Sem falar na desinformação e nos projetos orquestrados para propagação de fake news, inclusive usando mídia paga.

A questão é tão latente que a SaferNet Brasil disponibiliza um canal de denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, incluindo pornografia infantil, racismo, xenofobia, maus tratos contra animais, intolerância religiosa, tráfico de pessoas, LGBTfobia, entre outros. Só essa lista nos mostra o quão violenta e criminosa a internet pode ser.

No mesmo sentido, o governo federal lançou, em outubro, o De Boa Na Rede, programa focado no combate aos crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes, incluindo um canal de denúncias. Este serviço foi construído em parceria com plataformas de redes sociais e serviços de streaming, incluindo Meta (Facebook, Whatsapp e Instagram), X (Twitter), Discord, TikTok, Kwai e Google (canal de buscas e Youtube).

É pedido de desculpas ou postura de isentão?

Além de Zuckerberg, o CEO do Snap, Evan Spiegel, também pediu desculpas às famílias cujos filhos morreram após comprarem drogas através do Snapchat. Obviamente esses pedidos não resolvem o problema, tanto no sentido prático de proteger os usuários de crimes ocorridos nas plataformas quanto na gestão da crise de reputação que essa responsabilização causa a elas.

Depoimentos como o de ontem, incluindo frases como “nos empenhamos em construir os melhores recursos para manter a comunidade segura” e “estamos liderando esforços para garantir que ninguém passe pelo que vocês passaram” não têm mais lugar. Quanto mais dados os usuários geram, mais tempo ficam nos canais e engajam nos conteúdos, mais as empresas faturam. Sabendo disso, qual seria o interesse deles em apoiar a “briga” da regulação e remover conteúdo criminoso ou que induz a violência?

Quando fazemos esses questionamentos, percebemos o quão simplista é Zuckerberg afirmar que “isso não é o meu trabalho” quando pressionado em relação à responsabilização sobre as mortes e uma possível indenização. Obviamente que ninguém vai se incriminar; porém, se isentar dessa forma depõe contra ele, contra suas plataformas, e impacta negativamente em suas reputações. Porém, a questão não se resume a isso: mais do que se preocupar com o impacto em suas imagens, essas lideranças deveriam se preocupar de verdade com as pessoas, pois elas são o que movem as plataformas.

Eu não acredito que essas audiências públicas como a que ocorreu essa semana nos EUA quanto a realizada no ano passado no Brasil prejudiquem de alguma forma o desempenho em acessos e financeiros das plataformas. Mas meu lado mais Poliana espera que a visibilidade dada aos crimes que acontecem nesses canais de comunicação sejam punidos, sempre seguindo a lei do país onde o crime acontece. Como fazer essa regulação, sem ferir a liberdade de expressão e o direito à informação – e não permitindo que se torne ato de censura – é uma conversa que dá mais pano pra manga, e por isso fica para outro texto.

* Coordenadora de Conteúdo Reputacional na Éfe Reputação. Jornalista, Mestra e Doutora em Comunicação e Cultura. Cachorreira e cafezeira assumida, consegue ler livros e ser fã de realities, séries e filmes de gosto duvidoso ao mesmo tempo.

*Crédito da foto: USA Today (Reprodução: Olhar Digital)