5 lições que o caso Tallis Gomes nos ensina sobre reputação
Desde quarta passada, Tallis Gomes, empresário e até então CEO da G4 Educação, viu um simples story impactar negativamente sua vida profissional. O conteúdo machista das suas declarações provocou uma chuva de críticas, culminou com o seu afastamento da empresa que presidia e expulsão de um conselho consultivo de um grande grupo empresarial. Tudo às custas do derretimento da sua reputação positiva como executivo e da G4 Educação, uma das maiores empresas de educação executiva do País.
O caso deve ser analisado com cautela e frieza e nos traz algumas lições importantes. Separei 5 delas relativas ao papel da liderança e a gestão de reputação das empresas. Elas representam o nosso olhar sobre o caso e traz muito do que conversamos com nossos clientes no dia a dia. Uma crise que impactou a reputação da G4 Educação e, certamente, os cofres da empresa.
1. Distinção entre marca pessoal e corporativa
Líderes devem ter consciência de que, mesmo fora do ambiente de trabalho, suas atitudes podem ser associadas à empresa. Ou seja, o que o líder fala e como ele age será, cada vez mais, observado pelos colaboradores, pelos clientes, por toda sociedade. No caso do Tallis Gomes, foi um story no Instagram que deu origem ao problema, mas muitos ex-colegas e até alunos usaram a deixa para comentar possíveis casos e/ou posturas machistas ocorridos na empresa e nos cursos. Neles todos, a conduta de Tallis é apontada como inapropriada.
Sempre digo que CNPJs são formados por CPFs e a falta de distinção clara entre a marca pessoal e a imagem da empresa traz inúmeros benefícios, mas, na mesma proporção, riscos. Importante lembrar que as lideranças precisam ser treinadas pelas empresas para entender seu papel, os riscos e impactos de sua conduta para o negócio.
2. Posicionamento coerente com os valores da empresa
Empresas que não alinham o comportamento de seus líderes com os valores que pregam enfrentam um risco reputacional maior – e, na prática, desnecessário. O caso de Tallis Gomes destaca a necessidade cada vez mais evidente de uma coerência rigorosa entre o discurso da empresa e as atitudes dos seus representantes. Uma liderança positiva “encarna” a cultura da empresa. Uma negativa, com valores totalmente contrários aos que a empresa diz ter, acaba com ela – e não há marketing, recursos humanos ou publicidade que dê jeito.
Se a personalidade e os valores desalinhados dos líderes são um risco reputacional grande, é preciso mapeá-los e definir políticas claras sobre como os executivos devem se posicionar publicamente. Esses são apenas os primeiros passos para uma boa gestão de reputação. E sempre vale o questionamento: se esse executivo não comunga dos nossos valores, ele deve estar no cargo que ocupa?
3. Diga-me com quem andas…
Num mundo em que o acesso (à informação e as pessoas) é cada vez mais fácil e as situações de risco se tornam mais comuns (afinal, bastou um story para toda essa crise), não basta mais dizer e fazer o que é certo; é preciso andar com quem faz o certo. Depois do fatídico story, pode-se contar nos dedos as empresas e/ou lideranças que mantiveram de forma pública o apoio a Tallis Gomes. A CEO do Grupo Hope, Sandra Chayo, foi uma das poucas que saiu em defesa dele nas primeiras horas. A pressão pública foi tamanha que não apenas ela voltou atrás, como Tallis foi afastado do Conselho Consultivo do Grupo Hope. Além disso, sua palestra em um evento de inovação em Porto Alegre, essa semana, foi cancelada. E provavelmente esse não será o único “desconvite” que ele receberá.
Afinal, como manter o apoio e a cadeira quando a declaração do conselheiro vai contra os valores da empresa? Como conciliar o que foi dito por ele com as políticas de diversidade e inclusão, perante os colaboradores, os franqueados e os consumidores? Torna-se insustentável por conta do alinhamento de valores. E também não há motivo para a empresa abraçar uma crise que não é sua.
4. Reputação é para todos – mas não deve ser gerida por amadores
Se a crise gerada por Tallis Gomes ao G4 Educação tivesse sido gerida desde o começo com a seriedade que merecia, a empresa não teria publicado um pedido de desculpas amador, com discurso vazio e sem o tom correto. Da mesma forma o próprio Tallis teria sido melhor orientado em relação ao pedido de desculpas pessoal, publicado num segundo story.
Por certo, é difícil para uma empresa gerenciar uma crise causada pelo seu CEO e um dos fundadores, mas faltou o distanciamento e o pensamento crítico necessário para uma situação dessas. Apesar de ser uma crise totalmente pessoal, o seu gerenciamento deve ser feito da forma mais técnica possível.
Quando falamos sobre os riscos reputacionais das marcas não estamos trabalhando com o pior que pode acontecer, estamos antecipando aquilo que é possível (em maior ou menos grau) de ocorrer. Estar preparado é o mínimo para empresas deste porte – e mapear a personalidade do executivo faz parte desse processo. Separar de forma ética e firme o pensamento de Tallis do posicionamento da empresa é protegê-la – e isso deveria ter sido feito desde o começo. Discursos vazios e notas que nada dizem, não resolvem a situação.
5. Num mundo de lacração, nem tudo é permitido
Tallis Gomes era conhecido por suas declarações polêmicas, inclusive, reconhecendo que dizia coisas de forma planejada para chamar a atenção, conquistar alcance nas redes sociais e furar a bolha de quem já o seguia ou conhecia. Muitas empresas, líderes (e até políticos) adotam essa estratégia, mas o fato é: até ela tem limite.
Se era uma lacração para chamar a atenção, a declaração do Tallis saiu pela culatra. Mexeu com um assunto delicado e que, pasmem, toca à boa parte do público da G4 Educação. A certeza de que a lacração é permitida fez com que caísse o castelo de cartas provocado pela incoerência. Os executivos e as marcas precisam entender que não há mais espaço para tudo, a sociedade não tolera algumas situações e muitas delas não são esquecidas facilmente. Um story pode até ter só 24 horas de duração, mas o print é eterno e seu impacto na reputação, também pode ser.
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